J.W. Galuzio*
Já fui um quase-vegetariano num
breve tempo quando, lembro-me bem, despertaram em mim a consciência da melhor alimentação,
que seria mais natural para nós, mamíferos herbívoros. Quase ou muito pouco “veggie”,
pois eu consumia abundantes porções de aves e peixes. Mais tarde, percebi que, menos
do que isso eu era mais estático do que prático. Mais estático, mas não
majestático, pois me escondia atrás de pretensa conveniência culinária. Pouco
ou nada prático quando complicava demais o cardápio domiciliar com essa opção
ou mania.
A lua em peixes no alto do meu zodíaco
celestial estimula uma tendência esotérica algo incontornável ou incontrolável,
o que faz de mim um sedento apreciador de culturas e tradições exóticas para
encontrar deidades em todas as coisas. Meu saudoso guru Hervê, um druida muito
simpático, trocava altos papos com árvores, pedras ou cristais. Aprendi nestas incursões
o valor sagrado e sincero do jejum obsequioso, tanto quanto a gratidão humilde
diante do alimento dadivoso, animal ou vegetal. Encontrei então, outra vez, na proteína
animal todo prazer mais sutil associado ao saber gourmet dos mestres
churrasqueiros, mesmo nos verticais playgrounds de marmanjos em que se converteram
os nossos terraços e varandas.
Entre todos os cortes de carne, alguns,
mais nobres, oferecem experiência em nível superior, neste efetivo
entretenimento social que é o churrasco, esse jeito de curar (e um pouco
defumar) a carne em fogo aberto no carvão, ou sobre pedras à moda barbacoa, que vem desde as cavernas. Se
desde aqueles tempos aprendemos a conhecer o sabor misterioso resultado da mistura
fina da gordura que, ardendo vai lambuzando aqueles nacos vermelhos da fibra firme,
vemos cada vez mais inovações como os plásticos de culinária, que permitem
assar cada peça dentro de pequenos sacos que escondem molhos e temperos
exclusivos como os que só o Pedro e sua equipe monttana sabem fazer. Entre os
nobres pode-se destacar sua alteza a picanha, vossa excelência o filet mignon,
a dileta costela, as digníssimas maminha e fraldinha, o ilustríssimo cupim e
como também a baronesa calabresa.
Um bom churrasco não deve ser um exagero pantagruélico. É encontro, confraternização, exercício de socialização e de união. Mau
humor e baixo astral não combinam com esse momento, ainda que esteja num dia
menos animado, uns poucos minutos perto da grelha são suficientes para
incendiar o seu espírito. Todos os nossos sentidos são excitados, todos os seis
(sic). Olhar aquele tom vermelho de carne e brasa é hipnótico; o cheiro
agridoce defumado que preenche todo o ambiente é quase narcótico; aquele suave
chiado na chapa incandescente é indecente melodia aos nossos ouvidos; O simples
toque no ponto certo da carne molhada de suor salgado em caldo morno nos deixa
em transe; O paladar intenso da boca gulosa por sorver aquele alimento sagrado que
encharca nossas papilas gustativas alcança o êxtase.
Da próxima vez que fores a
uma celebração como esta, perceba que, churrasquear é tudo, menos se empanturrar,
é transcender ao pensar em como nossos tataravôs ancestrais teriam descoberto o
poder mágico do fogo amaciando aqueles tecidos suculentos. Então, deleite-se.
*João Wagner Galuzio (11) 94253-4553.
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